Sabrina, você viu o artigo (https://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/adb7f2) do Gerard Wedderburn-Bisshop que coloca a agricultura (em especial, claro, animal) como principal impactante no aquecimento global, muito à frente das fósseis? Ouvi a entrevista com ele no Planet: Critical (https://www.planetcritical.com/p/gerard-wedderburn-bisshop) e parece muito bem embasado. O que você acha? E fiquei pensando que com essa inversão, o Brasil passa a ser um dos maiores vilões atuais das mudanças climáticas, dada a criação animal e de grãos para alimentação animal, desmatamento para uso do solo com esses fins etc, em contraposição ao atual discurso de bom moço do mundo da matriz energética "limpa".
Oi Hugo, muito bom seu comentário. Sim, como vegana e pesquisadora de clima, trabalho bastante a questão da agricultura animal como um fator central. Eu falo muito disso toda vez que ouço que o Brasil tem "crédito" pra emitir por petróleo, porque historicamente "emitiu pouco" e explico que isso é mentira nos meus cursos sobre transição ecossocial.
É o que referimos como "contabilidade criativa" (e negacionista) do estado brasileiro para atrasar suas responsabilidades de transição. O importante é aliar a transição energética à transição agroalimentar (falei disso em alguns artigos meus no Intercept Brasil ano passado). Mas mesmo sem a discussão da metodologia de ERF (que é o ponto desse artigo que você mencionou), o Brasil já está entre os maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, historicamente, justamente pela mudança no uso da terra. Ou seja, as metodologias padrão já apontam isso há tempos, divergindo apenas nas proporções por conta de efeitos secundários e cumulativos relacionados a emissões fósseis. Mas pra limparem a barra do agro e pra fingir que tudo bem perfurar mais petróleo agora, ignoram os dados agregados, ou jogam que "as emissões do petróleo que exportamos não são nossas" (calculadas na queima), como se só importasse pro clima em que país ocorreu.
ps: Só é preciso tomar cuidado pra que as discussões científicas atuais de contabilidade de emissões que enfatizam a LULUCF não sejam usadas para desmobilizar da urgência de transicionar dos combustíveis fósseis. O que entendemos é que emissões de LULUCF são mais complexas (principalmente pela questão de sumidouros) e portanto as métricas necessitam sim de mais revisões, mas considero incorreto supor que por isso deveriamos mudar de foco. É sobre complementariedade e não largar de uma transição para fazer outra, pois nem resolve nem aborda o quão transversais são as emissões. O mesmo sistema agrário que emite hoje, também emite via consumo de combustíveis fósseis na sua cadeia produtiva, de distribuição. Essa setorialização sempre foi parte do problema. Enquanto emissões podem ser categorizadas em setores, as transições devem ser feitas atravessando setores, desde a agropecuária à energia, ao setor de residuos, etc, olhando para a cadeia produtiva e a organização social. Depois dê uma olhada na minha introdução e no dossiê que eu editei: https://alameda.institute/pt/publishing/energy-transitions/
Sabrina, você viu o artigo (https://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/adb7f2) do Gerard Wedderburn-Bisshop que coloca a agricultura (em especial, claro, animal) como principal impactante no aquecimento global, muito à frente das fósseis? Ouvi a entrevista com ele no Planet: Critical (https://www.planetcritical.com/p/gerard-wedderburn-bisshop) e parece muito bem embasado. O que você acha? E fiquei pensando que com essa inversão, o Brasil passa a ser um dos maiores vilões atuais das mudanças climáticas, dada a criação animal e de grãos para alimentação animal, desmatamento para uso do solo com esses fins etc, em contraposição ao atual discurso de bom moço do mundo da matriz energética "limpa".
Oi Hugo, muito bom seu comentário. Sim, como vegana e pesquisadora de clima, trabalho bastante a questão da agricultura animal como um fator central. Eu falo muito disso toda vez que ouço que o Brasil tem "crédito" pra emitir por petróleo, porque historicamente "emitiu pouco" e explico que isso é mentira nos meus cursos sobre transição ecossocial.
É o que referimos como "contabilidade criativa" (e negacionista) do estado brasileiro para atrasar suas responsabilidades de transição. O importante é aliar a transição energética à transição agroalimentar (falei disso em alguns artigos meus no Intercept Brasil ano passado). Mas mesmo sem a discussão da metodologia de ERF (que é o ponto desse artigo que você mencionou), o Brasil já está entre os maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, historicamente, justamente pela mudança no uso da terra. Ou seja, as metodologias padrão já apontam isso há tempos, divergindo apenas nas proporções por conta de efeitos secundários e cumulativos relacionados a emissões fósseis. Mas pra limparem a barra do agro e pra fingir que tudo bem perfurar mais petróleo agora, ignoram os dados agregados, ou jogam que "as emissões do petróleo que exportamos não são nossas" (calculadas na queima), como se só importasse pro clima em que país ocorreu.
ps: Só é preciso tomar cuidado pra que as discussões científicas atuais de contabilidade de emissões que enfatizam a LULUCF não sejam usadas para desmobilizar da urgência de transicionar dos combustíveis fósseis. O que entendemos é que emissões de LULUCF são mais complexas (principalmente pela questão de sumidouros) e portanto as métricas necessitam sim de mais revisões, mas considero incorreto supor que por isso deveriamos mudar de foco. É sobre complementariedade e não largar de uma transição para fazer outra, pois nem resolve nem aborda o quão transversais são as emissões. O mesmo sistema agrário que emite hoje, também emite via consumo de combustíveis fósseis na sua cadeia produtiva, de distribuição. Essa setorialização sempre foi parte do problema. Enquanto emissões podem ser categorizadas em setores, as transições devem ser feitas atravessando setores, desde a agropecuária à energia, ao setor de residuos, etc, olhando para a cadeia produtiva e a organização social. Depois dê uma olhada na minha introdução e no dossiê que eu editei: https://alameda.institute/pt/publishing/energy-transitions/